sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Dia do Patrimônio | 17 de agosto

Em comemoração ao dia do Patrimônio Histórico, Artístico e cultural, o CONPPAC faz uma homenagem em agradecimento a todos que contribuem para preservar e valorizar a memória da cidade de Ribeirão Preto.
 

A seguir, uma seleção de dados históricos apresentados trata de forma sucinta o desenvolvimento da ideia de Patrimônio no mundo, no Brasil e em Ribeirão Preto.

  
Em 17 de agosto de 1898 nascia em Belo Horizonte, Minas Gerais, o advogado, jornalista e escritor Rodrigo Melo Franco de Andrade (1898/1969), criador do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional– IPHAN, em 1937, e diretor da Instituição durante mais de 30 anos (1937/1968).
Rodrigo Melo Franco de Andrade. Foto: Marcel Gautherot [Acervo Iphan]

Durante as comemorações pelo centenário de seu nascimento, em 1998, o 17 de agosto foi instituído como o “Dia Nacional do Patrimônio Histórico”.
 
A formação da noção de patrimônio cultural é resultado de uma longa evolução, que inicia-se por uma afeição de civilizações antigas por obras do passado. A princípio, chamadas de antiguidades, e depois de monumentos, tais obras começaram a ser entendidas no sentido de patrimônio somente no momento em que se conceitua a história como uma disciplina. Esse sentido, mais tarde, desembocaria na visão de patrimônio histórico, e, nas últimas décadas do século XX, na noção mais abrangente de patrimônio cultural. (EESC.USP, 2013)
Arco de Tito, Roma, antes do restauro oitocentista. Ilustração G.B. Piranesi.

Embora ainda não sistematizados dentro da noção de patrimônio cultural, o interesse por vestígios do passado é antiga, já estando presente na Antigüidade Clássica e na Idade Média.

Com o surgimento da conceituação da história e do seu sentido na Renascença, cria-se a condição necessária para que se constitua a noção de monumento histórico. No entanto, Françoise Choay observa que as ações de preservação e restauro desses monumentos ainda não se dão de forma sistematizada. Na época, "a conservação dos edifícios (monumentos, grandes equipamentos e outros) tem lugar, necessariamente in situ. Ela provoca dificuldades técnicas muito diferentes. Está na dependência do domínio público e político, envolve mecanismos edílicos, econômicos, sociais, psicológicos complexos, que geram conflitos e dificuldades (...) Contra as forças sociais de destruição que os ameaçam, os edifícios antigos têm, como única proteção – aleatória, se não derrisória – a paixão do saber e o amor pela arte" (CHOAY, 2001, p.52).
A sistematização das ações de conservação dos monumentos históricos só se dá com a constituição dos patrimônios históricos e artísticos nacionais, a partir do momento em que o Estado assume sua proteção. Segundo a pesquisadora Maria Fonseca (1997, p.11), essa é: 
"uma prática característica de Estados modernos, que, por meio de determinados
agentes, recrutados entre intelectuais, e com base em instrumentos jurídicos
específicos, delimitam um conjunto de bens no espaço público. Pelo valor que lhes
é atribuído, enquanto manifestações culturais e enquanto símbolos da nação,
esses bens passam a ser merecedores de proteção, visando a sua transmissão
para futuras gerações."

Retrato do arquiteto Viollet-le-Duc.
 

Os desdobramentos da política de preservação do patrimônio nacional francês teve, ao longo do século XIX, relevância que vai além das fronteiras do país, repercutindo em muitas outras regiões da Europa. Esse século também assiste ao estabelecimento de duas linhas de reflexão sobre práticas relacionadas aos bens a serem considerados parte de um patrimônio nacional. O arquiteto Viollet-le-Duc, na França, e o poeta, artista e crítico social e de arte John Ruskin, na Inglaterra, são os dois grandes protagonistas nas discussões sobre o sentido do restauro de monumentos históricos no século XIX. (EESC.USP, 2013)
No final do século XIX e início do século XX, no entanto, surge uma nova geração de arquitetos preocupados com o conceito de restauro e em defesa da conservação e reparação, de modo a preservar os valores históricos e artísticos do monumento, baseados nos princípios estabelecidos pelo arquiteto italiano Camillo Boito (LUSO et al, 2006)

Como reação aos conceitos de restauro de Viollet-le-Duc, e às idéias passivas de Ruskin, Boito e os seus seguidores defendem intervenções de nível intermédio, que servem de base às teorias atuais.


"Boito opõe-se às integrações de modo a acabar a obra inacabada, propondo, pelo
contrário, respeitar todas as partes do monumento. Os acréscimos de épocas
posteriores testemunham a história do monumento (...) Boito defende a
manutenção do edifício ao longo do tempo de modo a evitar-se o restauro, com
acréscimos e renovações à semelhança de Ruskin, mas sem deixá-lo cair em
ruínas passivamente. Quando é necessário a intervenção, esta deverá ser bem
diferenciada da obra antiga, afirmando-se contra os restauros estilísticos que
falsificavam os monumentos" [LUSO et al, 2006, p. 38].


 Retrato de Camillo Boito, Collection Montrasio Monza, 1880 (OLIVEIRA, 2009)

A partir do século XX, proliferam outras visões sobre a preservação dos em diversos países, então percebe-se a necessidade de se estabelecer regras aceites internacionalmente, tendo em vista solucionar os problemas complexos de salvaguarda do patrimônio. Conforme estudos do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), surgem então as chamadas Cartas patrimoniais, "documentos, muitos dos quais firmados internacionalmente, que representam tentativas que vão além do estabelecimento de normas e procedimentos, criando e circunscrevendo conceitos às vezes globais, outras vezes locais" [IPHAN, 2000, p.07]

No entanto, Fonseca (1997) observa que o grande marco na proteção e preservação de bens de valor histórico, em âmbito internacional, se deu logo após a II Guerra Mundial, com a criação da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) em 1945, durante a Conferência de Londres.


 
O patrimônio possui a capacidade de estimular a memória das pessoas historicamente vinculadas a ele, e por isso, é alvo de estratégias que visam a sua promoção e preservação. A preocupação em protegê-los começou no inicio do século XX. Foram sendo criadas a partir daí, várias comissões e conferências para estabelecer critérios para proteger e conservar o patrimônio. No Brasil, as primeiras medidas oficiais surgiram em 1936, a partir de um anteprojeto de Mário de Andrade e alguns intelectuais da época, com suas concepções sobre arte, história, tradição e nação, através da criação do SPHAN-Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. (ROCHA, 2012)
Museu Nacional de Belas Artes (MNBA), no Rio de Janeiro. Instalado no prédio da antiga Escola Nacional de Belas Artes, a edificação do início do Século 20 foi tombada em 1973.

A partir deste trabalho, sob a coordenação de Rodrigo Melo Franco de Andrade, a instituição foi criada pela Lei Nº 378, de 13 de janeiro de 1937. Em 30 de novembro de 1937 é promulgado o Decreto-Lei Nº 25, que “organiza a proteção do patrimônio histórico e artístico nacional” e institui o instrumento do tombamento.

Preserva-lo então, pode ser uma medida eficaz para garantir que a sociedade tenha a oportunidade de conhecer sua própria história e de outros, por meio do patrimônio material, imaterial, arquitetônico ou edificado, arqueológico, artístico, religioso e da humanidade. Pois através da materialidade, o indivíduo consegue se realizar e afirmar sua identidade cultural, podendo também, reconstruir seu passado histórico (OLIVEIRA; LOURES OLIVEIRA, 2008).

 
Levantamentos feitos apontam que a primeira referência sobre patrimônio na legislação municipal de Ribeirão Preto foi no ano de 1967, através da criação do Conselho de Cultura (Lei n. 2002), em que a principal finalidade seria a de “contribuir para a elevação do patrimônio e a mobilização constante das potencialidades culturais da cidade.” Em 1971 é criado o Conselho da Defesa do Patrimônio Histórico e Cultural do Município através da Lei n. 2.508 sendo este subordinado ao então Departamento de Cultura e Esporte.
Edifício do Primeiro Grupo 1910 - Atual EE Guimarães Junior. Foto: Arquivo Histórico de Ribeirão Preto
 
De acordo com Registro (2013) na década de 1970 foram promulgadas as primeiras leis municipais que dispuseram sobre proteção especial de bens de valores históricos e artísticos, delegando ao Conselho de Defesa (lei. n. 222.508/1971) autorização para qualquer alteração:

  • Lei n. 2.764, de 08 de junho de 1973: declarou de valor histórico o prédio do Teatro Pedro II;
  • Lei n. 2.890, de 28 de maio de 1974: sistematizou as disposições quanto a defesa dos bens locais de valor histórico e artístico; instituiu a figura do Livro de Tombo; reafirmou a competência do Conselho de Defesa do Patrimônio quanto a aprovação de reformas ou modificações dos bens tombados bem como dos imóveis próximos ou na vizinhança do bem tombado; ainda no seu artigo 11, dispôs que, quando o proprietário do imóvel tombado não dispusesse de recursos para sua manutenção, deveria comunicar ao Conselho que solicitaria a execução das obras pelo Executivo Municipal e, no caso do Executivo não realizasse as obras o proprietário poderia solicitar o cancelamento do tombamento.

Em 17 de outubro de 1996, através da Lei n. 7.521, foi criado o Conselho de Preservação do Patrimônio Cultural do Município de Ribeirão Preto – CONPPAC-RP.

Praça XV de Novembro, Teatro Pedro II, Edifício Meira Junior e Central Hotel. Fonte: Arquivo Histórico de Ribeirão Preto.
 
         “Em Ribeirão Preto as tentativas de acertos na preservação dos bens patrimoniais não são distintas do restante do país e da América Latina. Ainda que as maneiras das Políticas Culturais embora estejam respaldadas pela diferença do popular e do culto, muitos avanços foram conquistados na direção da preservação e divulgação do patrimônio. Os bens sob proteção especial notoriamente revelavam um determinado modo de olhar a cidade, sobre a grandiosidade da arquitetura pontuada na preservação da memória cafeeira”. (REGISTRO, 2013) 

Theatro Pedro II, edifício antigamente e atualmente, respectivamente.
Primeiro edifício alto construído em Ribeirão Preto: o edifício Diederichsen (antigamente e atualmente, respectivamente).